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Overdose I. Origens: Entenda como a House nasceu da Disco

17 May 2021

Reportagem: Danila Moura

No primeiro episódio da série Overdose vamos abordar os reflexos e os caminhos da House Music no Brasil. A seção é baseada em depoimentos de músicos, DJs, produtores, frequentadores e outras personalidades protagonistas do começo da cena da House por aqui. Overdose é um projeto de registro histórico digital baseado em depoimentos online.

ORIGENS
Nascido no bairro do Bronx, estudante de Desenho de Moda na Fashion Institute of Technology em Nova Iorque, Frankie Knuckles conseguiu o primeiro trabalho na boate Gallery junto do colega Larry Levan, após ser chamado pelo mestre da discotecagem Nicky Siano para fazer a decoração da abertura do clube em 1972, repleto de balões e com direito até uma jarra de ponche batizado com LSD. Na sequência, Levan foi para o badalado Continental Bath e levou o amigo Knuckles junto.

 

Neste espaço libertário Frankie pode fazer seus experimentos musicais, inicialmente de forma muito rústica ele cortava e literalmente colava faixas de fitas cassete para criar novas sonoridades a partir da Disco. O sistema de áudio do espaço dedicado aos DJs, improvisado numa passagem entre o palco e camarim, mantinha pré-amplificadores de equalização caseiros. O coração do sistema era um amplificador Phase Linear, que foi apelidado de “Flame Linear” por sua tendência de sobrecarregar os alto-falantes a ponto de literalmente pegar fogo, situação agravada pelos DJs que substituíram os fusíveis por papel alumínio para tentar puxar ainda mais volume.

 

O mixer também foi uma criação personalizada, com grandes botões de transmissão RCA, sem crossfader (eles não eram popularizados até o final dos anos 70), dois canais para um par de toca-discos Lenco de alto torque e um fader médio que controlava um toca-fitas para ser usado automaticamente caso o DJ não pudesse tocar, o que acontecia eventualmente em festas movidas por muitas drogas. 

O Continental Bath foi ícone da contracultura norte-americana dos anos 70 da Era Disco, frequentado por artistas e pessoas interessadas na programação cultural da casa, que ficou famosa pelas apresentações de humor da atriz Bette Midler, a “Bathhouse Betty”. Entre os frequentadores estavam nomes como Mick Jagger, Andy Warhol e Alfred Hitchcock.

“Apelidado de ‘as banheiras’, o Continental era uma mistura única de playground e centro comunitário hedonista que atendia a vinte mil homens gays por semana. Diferentemente de outras casas de banho que eram principalmente infestadas de ratos, o Continental tinha uma atmosfera segura e acolhedora. A principal atração para a maioria dos visitantes foram as quatrocentas salas privadas alugadas para serem usadas para sexo casual, mas estas foram complementadas com uma incrível variedade de comodidades que incluíam sauna a vapor, piscina, sauna seca, palco de cabaré, pista de dança de discoteca bar licenciado, café e clínica especializada no tratamento de DSTs. Havia até um espaço para serviços religiosos. A primeira vez que o pioneiro da House Music Frankie Knuckles visitou o clube com Larry Levan em 1973, duas semanas depois eles foram contratados. Infelizmente, nem todo mundo estava tão empolgado com a presença do clube. A homossexualidade ainda era tecnicamente ilegal na cidade de Nova York, e o clube foi invadido no dia da abertura. O Continental Baths foi invadido mais de duzentas vezes por policiais. As táticas invasivas levaram o clube a organizar uma petição para mudar as leis antiquadas da cidade de Nova York. Mais de 250.000 assinaturas foram entregues ao gabinete do prefeito, resultando na revogação das leis e em uma grande vitória para o movimento de libertação gay”. Steve Ostrow, Live at the Continental: The Inside Story of the World-Famous Continental Baths (Bloomington: Xlibris, 2007).

Apesar do convite para o trabalho em um novo clube feito por Robert Willians ser bastante sedutor, Larry Levan não quis sair de Nova Iorque, manteve-se na cidade e abriu o Paradise Garage ao lado do empresário Michael Brody. Knuckles aceitou a oferta de Willians rumo à Chicago, onde começou a trilhar os primeiros passos na música futuramente chamada de House na lendária pista do Warehouse.

 

Levan tocava da meia-noite de sábado a domingo à tarde no Paradise Garage. A capacidade de Levan de criar um vínculo entre alma e dança pode não ter sido “House Music” por si só. Mas quando os formadores de opinião se deram conta, os seus sets progressivos despertaram o interesse dos Estados Unidos pelo estilo de música que Knuckles estava usando para dominar a Windy City.

O lendário DJ Francois Kevorkian disse à Rolling Stone que “[as mixagens de Levan eram] meio difíceis de caracterizar. Ele poderia muito bem tocar Fela Kuti e Ginger Baker ou tocar alguma música rock. Pat Benatar. Mesmo naqueles primeiros anos, ele estava favorecendo uma grande variedade de coisas, algumas das quais ele mantinha fielmente o legado de toda uma geração de músicos, medalhões da Filadélfia, como Teddy Pendergrass e Jones Girls e assim por diante”.

MIXAGENS
Em comparação com a Disco, House era “mais profunda”, “mais crua” e mais projetada para fazer as pessoas dançarem. A Disco já havia produzido os primeiros vinis destinados especificamente a DJs com versões estendidas de 12 polegadas que incluíam longas pausas de percussão para fins de mixagem. O início dos anos 80 se tornou um ponto de virada vital, quando as as técnicas evoluíram em uma direção diferente utilizando sons esparsos e sintetizados que apresentavam efeitos nunca antes ouvidos.

 

Os primeiros produtores e inovadores de DJs de clubes como Frankie Knuckles, Larry Levan, DJ Ron Hardy e outros integrantes do programa de rádio Hot Mix 5 tiveram um papel importante na evolução do Disco para o início da House Music, moldando para sempre o cenário da música eletrônica moderna. Os DJs do clube começaram a explorar discos de mixagem e batida, aplicando técnicas de edição, tocando sets narrativos e experimentando maneiras inovadoras de superar as limitações do equipamento de DJ naqueles tempos. Muitos intercalaram os papéis de DJ, compositor, produtor e remixer, criando e tocando suas próprias edições de suas músicas favoritas em fita mexendo de bobina em bobina. Alguns até levaram a música para o próximo nível misturando efeitos ou usando baterias eletrônicas e sintetizadores que introduziram o ritmo 4/4 consistente.

Aos 27 anos, depois de quase cinco anos no Warehouse, Knuckles decidiu mudar de ares incomodado com o valor de entrada do clube ter dobrado por causa do hype gerado na época, fato atrativo para brancos e héteros indesejáveis. Em novembro de 1982, Knuckles começou a rodar as noites de sexta-feira no Riverside Club. Um mês depois, o espaço foi relançado como Power Plant. Enquanto Knuckles era conhecido por suas edições de clássicos, no Power Plant ele começou a experimentar uma bateria eletrônica Roland TR-909 comprada do Derrick May.

 

Por um tempo, Knuckles trabalhou como comprador da Importes Etc., uma loja de discos. Foi lá onde um jovem chamado Jamie Principle presenteou Knuckles com uma fita de canções de amor que ele havia escrito para sua namorada, Lisa. Principle, Knuckles e Loftis começaram a montar diferentes versões das músicas para tocar no clube.

Uma das versões de “Your Love” que circulou por anos foi uma combinação dos padrões de batida crua de Greg Gray e os vocais doces de Principle, Loftis lembra: “[Knuckles] pegou o 909 e apenas gravou com as diferentes mudanças de padrão que ele gostou e depois colocou uma acapella de ‘Your Love’ em cima. Foi promissor”. Desta forma nasceu a faixa mais icônica de House da história.

HOUSE MANIA
A WBMX era uma rádio FM popular em Chicago, cujo público e funcionários eram majoritariamente pretos e ou imigrantes latinos. Em 1985, o diretor Lee Michaels resolveu apostar nas mixagens dos DJs na programação, fato capaz de mudar a história da música eletrônica. Influenciada pelo R&B e curiosamente pela Italo Disco, a emissora escalou Mickey Mixin Oliver, Farley Jackmaster Funk, Ralphi Rockin Rosario, Kenny Jammin Jason e Scott Smokin Silz, responsáveis por sedimentar e propagar o que hoje chamamos de House Music. Assim como os clubes de Chicago bombaram tocando o novo gênero musical, a WBMX reverberou a House na maior parte da programação na época, tornando-se fundamental na popularização do gênero. Posteriormente, o programa evoluiu para um selo fonográfico, com grandes lançamentos dos principais DJs residentes.

 

Outro propagador da House para a grande massa foi o programa de televisão New Dance Show, do canal WGPR-TV 62, a primeira estação de TV dos EUA a ser de propriedade e operação totalmente de artistas pretos. Apresentado por RJ Watkins, era considerado uma versão local do antigo Soul Train, fato que reforça o quanto a Disco foi “pai e mãe” da House e do Techno, estilos musicais que dominavam a pista de dança do programa. Dançarinos residentes dividiam espaço com duas figuras fixas, um cara vestido de cigano com capa de super herói e uma mulher de boxeadora.  As apresentações diárias, sempre das 18h às 19h, rolaram de 1988 a 1995.


NO BRASIL
Como rolou uma House Music por aqui? Quais foram as rádios e programas disseminadores na FMs no Brasil? De que forma os DJs conseguiam saber quais eram os sucessos dos principais clubes de Nova Iorque e Chicago numa época sem internet? Já ouviu falar em prêmio para o clubber mais popular da pista? Confira toda segunda-feira no Bulletin um depoimento sobre um momento histórico da House Music no Brasil. 

Overdose I. Origens: Entenda como a House nasceu da Disco