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OVERDOSE I: A House no Brasil pela visão da DJ Valéria

21 Jun 2021

Reportagem: Danila Moura

Romper barreiras é a especialidade da DJ Valéria, primeira mulher a se aventurar na discotecagem em Belo Horizonte. Nos anos 90, ela despertou interesse pela música após acompanhamento de pertinho um DJ em ação. Rapidamente, ela aprendeu a discotecar só de olhar a movimentação toda. Desta forma, surgia uma das figuras mais emblemáticas da noite mineira, que deu até aulas de DJ, algo inédito para uma mulher na época. Ela conheceu o DJ Ronan no curso, seu marido até os dias de hoje e companheiro na retomada de Valéria na música. Após bombar nas rádios FM, ser residente na boate Phoenix e lançar um vinil próprio, Valéria precisou se afastar dos clubes e das discotecas.

Confira o depoimento da primeira DJ mulher de BH. A foto do Lucas Chagas mostra DJ Valéria em sua primeira apresentação na festa de aniversário de quatro anos do coletivo mineiro 101Ø.

Foto: Lucas Chagas.

 

A primeira vez que fui a uma danceteria, eu tinha 11 anos para 12 anos, fui parar na matinê, quando eu vi o DJ, fiquei atrás dele observando. Eu pensava: ‘gente, isso é legal demais, eu vou fazer também’. Segui frequentando as danceterias, eu ficava direto sozinha atrás da cabine observando, e forma, eu aprendi a tocar só olhando. Ninguém me ensinou. Eu olhava ele tocando um disco, quando piscava, estava do outro lado um outro disco, piscava, e mudava muito rápido. Eu queria muito aquele equipamento, então resolvi comprar o mixer e dois toca-discos, comecei a treinar e investir na minha carreira.

ESTRANHA NO NINHO
Comprava as discotecas aqui em Belo Horizonte, na Black White, uma loja dos DJs. Eu pesquisava música lá, onde vendiam discotecas e equipamentos para DJs. Eu chegava, uma mulher, todo mundo me encarava pensando: ‘O quê essa mulher está fazendo aqui? Não é lugar para mulher, né ‘. Todo mundo com olho grande para cima de mim, enquanto eu pesquisava minhas músicas. Comecei a fazer amizade com o vendedor e como pessoas desenvolver a me conhecer lá na loja por causa da frequência. Eu pesquisava muito também em São Paulo, na loja UP Dance Music, e na DJ Shopping.

Eu conheci o Ronan Rossato com 18 aninhos, mas antes eu o vi quando tinha 15 anos. No dia que eu estava na loja, ele estava lá pesquisando música enquanto eu vendia meu toca-discos CCE para comprar uma MK2. Eu cheguei com o toca-disco e fones de ouvido, ele olhou para mim com uma cara de quem tava pensando: ‘quem é essa mulher, o que é isso, ela está vendendo toca disco? DJ era uma profissão masculina, não tinha mulher no meio. Ele foi conversar comigo, quis indicar umas músicas, mas eu não dei atenção. Três anos depois, quando estava dando aula de DJ, eu o conheci lá no curso e ele foi meu aluno. Começamos a namorar, e ele perguntou se há uns três anos atrás eu estava na Black White, vendendo toca discotecas. Eu falei que sim. Daí lembrei que era ele o cara na loja. Ronan Rossato é DJ profissional até hoje, estamos juntos há 25 anos.

http://https://www.youtube.com/watch?v=GqOsmxD7dVY

PRIMEIROS CLUBES

Comecei tocando em uma quadra de escola, fiquei mais conhecida, porque chamava atenção por ser mulher. Depois que comprei as MK2 e comecei a treinar, evoluí muito a minha técnica.

Em 1991, o DJ Eduardo Bonagio do programa Blits 107 da rádio 107FM em BH, me convidou para fazer um Blitz 107 ao vivo na Hipoddromo para quase duas mil pessoas. Afinal, era uma grande oportunidade e eu chamaria atenção por ser mulher. Quando ele me anunciou fazendo toda questão de apresentar a primeira DJ mulher profissional de BH, eu fiquei arrepiada e soltei as músicas, foi sensacional e incrível. Quando eu saía para outros clubes, os DJs me pediam que eu desse uma palhinha de uns 15 minutos. A graça era anunciar no microfone que a primeira DJ mulher de Belo Horizonte estava lá. Desta forma, as pessoas foram me conhecendo como DJ. Fui residente pela primeira vez na Danceteria Marrakesh que fica no Calafate, depois recebi um convite do dono da Phoenix, chamando para ser a DJ residente e na época a danceteria Phoenix já era muito conceituada e seria uma troca de DJs na qual tive a responsabilidade de manter um público fiel de 1500 pessoas por dia, e por ser mulher, era um atrativo diferenciado e ousado, pois tinha 17 anos e fui emancipada para assumir uma das noites mais badaladas de BH. A pista não parava e rolava de tudo, Eurodance, Undergroud, Hip hop, Axé… agradando todas as tribos, fui muito bem acolhida pelo o público, surgindo também outras oportunidades fora da Phoenix como programas em rádios ( Sai dançando Power FM e Big Mix Líder FM), festas, ministrava um curso para DJs e o lançamento do disco DJ Valéria Faz a Festa.

 

http://https://www.youtube.com/watch?v=gkH4ZOURt_k

TÉCNICAS INOVADORAS
Muitas pessoas faziam questão de ir lá no clube para me ver, pois não acreditavam que uma mulher seria capaz de tocar e mixar tão bem. Eu treinava bastante em casa, por isso, apurava mais minha técnica. Despertava a curiosidade, geral pensava: ‘eu tenho que ir na Phoenix ver essa mulher para ver se ela é DJ mesmo, desse jeito, o povo ficava tão instigado que ia até a Phoenix conferir.

Nessa época, tocava muito Eurodance como La Bouche, Corona, The Creator… Cada boate tinha aquela música que não tocava em rádio, era música diferenciada, que fazia a cara da pista. A galera pensava: ‘nossa, aquela música só toca na Phoenix. O underground, o Chicago chegou em meados dos anos 90 como DJ Trajic, Armand Van Helden, entre outros… Eu comecei a colocar várias bandas da linha underground junto com Eurodance. Tudo que o DJ tocava de lançamento, os frequentadores ficavam na deles. Passava uma semana, já era sucesso. A música fazia o nome da casa. O pessoal que era frequentador mesmo ouvia a track por uma ,duas vezes e sacavam e gostavam da Música. Lógico, as vezes a track não pegava.


A MINA DO DISCO
Eu fazia conexão em São Paulo, colava direto nas lojas UP Dance, e DJ Shopping.
Quando estava conversando com os donos da loja de discos Black White, surgiu a ideia de lançar um disco pelo fato de ser a primeira DJ mulher de BH e estar em destaque, seria um disco diferenciado naquela época, então fiz uma parceria com eles, selecionei as músicas, fizemos as fotos e escolhi o nome DJ Valéria Faz a Festa e foi o primeiro disco da primeira DJ mulher de Belo Horizonte. Foi um lançamento inédito na Phoenix onde era residente e depois tiveram outras festas de lançamento em várias cidades de MG. Sucesso demais. Também ministrei um curso de DJs na própria Phoenix. Vários DJs fizeram curso comigo naquela época e são bem sucedidos hoje.

NOVOS ARES
Logo após todo esse alvoroço surgiu a oportunidade de tocar na zona sul de BH e concretizei meu profissionalismo pois até então só tocava na zona norte de BH.
Essa boate se chamava Fantasma da Ópera, era uma boate temática. Para você entrar tinha que pegar um carrinho de trem fantasma, subia, dava uma voltinha e parava na pista mais alucinada de BH. Inaugurei e comandei durante 2 anos e meio e tinha capacidade para mil pessoas, o som rolava House, porém, era mais eclético, com espaço para rock e clássicos dos anos 70, 80 e 90. Quando chegou nos anos 2000, as boates começaram a fechar, então comecei a fazer eventos particulares e casamentos. A vida começou a me pedir outro caminho. Meu pai faleceu e deixou uma empresa, para os filhos administrarem e era muito puxado, começava a trabalhar às 4h da manhã, era impossível conciliar.

Resolvi parar de ser DJ, vendi todo meu acervo de vinil 12 polegadas e todo equipamento. Com o passar do tempo, tive vários convites para tocar em festas “Remember” como DJ dos anos 90, assim resolvi ter novamente os equipamentos para treinar e voltar a tocar participando como DJ principal nessa linha de festa. Foi sensacional.

 

Até que rolou o convite para tocar na 101Ø. em 2019. Isabela Egídio, uma das DJs do coletivo, foi no sebo procurar disco. Por acaso, ela encontrou o meu vinil “DJ Valéria Faz a Festa” a partir daí tudo começou. Pedi para encontrarmos para conhecer eles melhor, contar a minha história e ouvir a história deles sobre a festa 101Ø. . O Arthur Cobalt e o OMOLOKO vieram em casa, conversamos por altas horas. Eu falei para eles que tocava músicas dos anos 90 pelo fato de voltar a tocar nas festas “Remember” e achava que a festa 101Ø era mais atual e o público não aceitava uma DJ dos anos 90.

Mas o pessoal da 101Ø. queria isso, que eu tocasse música daquela época mesmo, fiquei com um pé atrás mas topei o convite. Curti muito todo o processo de propaganda nas redes sociais e fiquei hiper ansiosa, cheguei lá, era uma festa enorme, aproximadamente 1700 pessoas e um público novo super animado, tinha vários artistas, nunca tinha visto alguém pintar quadro na hora em uma festa, massa demais e estava tudo arrasador, fiquei chocada com tanto profissionalismo e fui muito bem recebida por todos. Quando comecei a tocar, não acreditava, tudo estava dando certo, voltei no tempo, uma sonzeira danada e quando me dei conta, a festa foi até o amanhecer, foi tudo pra mim, não tive essa oportunidade de tocar até de manhã, quando era DJ dos anos 90, eu era DJ residente de casa noturna. O público adorou o meu som e juntos tivemos uma vibe espetacular e incrível. Eu fiquei feliz demais! Obrigada equipe 101Ø. simplesmente Inesquecível e memorável, vai ficar no meu coração pra sempre.

OVERDOSE I: A House no Brasil pela visão da DJ Valéria