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ENQUADRO 01

31 Jan 2020

Thyago Sainte

Na primeira edição, o Robot Radio, da Acaptcha, recebe perguntas dos coleguinhas de programação brisando sobre distopia musical tecnológica e blablabla. 

Nørus – Segunda Casa

Qual é o artista mais surpreendente em toda sua jornada de pesquisa pela música? Por quê?
Robot Radio: Pensando aqui num momento na minha memória, de alguém que eu realmente fiquei pasma e foi capaz de ampliar a minha percepção da música. Curiosamente, eu lembro de uma peça de dança e não de um artista de música. A Anne Teresa de Keersmaeker, ela tem uma peça que chama “The Song”, e o que se ouve é o som dos movimentos, respiração, dos atritos com o espaço. Os dançarinos usavam microfones no corpo, então a parte sonora era muito forte, muito presente. Quando eu vi, eu estava em Lisboa, em 2012, estudando e começando a trabalhar com som. Presenciar isso, acho que foi essencial pra eu entender melhor a relação entre som e movimento, música e dança.

Sarlim – Rádio Fantasma 

Como você imagina que a evolução da inteligência artificial vai impactar DJs e produtores musicais no futuro?
RR: São vários lados, primeiro, eu imagino a indústria tornando a relação das pessoas com a música mais programada, controlada e previsível. Isso já acontece, né? Esse futuro não é tão distante. O que vai mudando é a forma de operar, mas algo nocivo eu já percebo nisso, muita coisa que vem da AI atualmente já impacta nosso sistema nervoso de uma forma preocupante. O Facebook, por exemplo, está se desdobrando nos mecanismos de leitura da mente, e não sabemos aos certo os danos disso daqui pra frente.

Claro, existe um outro lado, se for além das armadilhas da indústria. Eu imagino muita gente corrompendo esse sistema, hackeando todas essas ferramentas; estou tentando ser otimista (risos). A maneira como a Björk usou parece legal, porque, imagina você hábil para fazer música com base nas tendências climáticas, nas nuvens, pássaros ou em temperatura, movimento, entre outras possibilidades. Isso é incrível! Agora, tudo que envolve tecnologia e a leitura da mente me deixa muito preocupada. Então, eu não vou nem entrar nesses detalhes (risos).

 

Ganso – Dirigindo Carros Ruins/Sessão Vírus Santo

Existe um papo sobre a inteligência artificial acabar com a gente em breve. Pensando nisso, você acha que esse tipo de inteligência poderia criar uma música de poder?
Nossos programas poderiam ser feitos por essa inteligência? O cerne disso veio do papo de um fã do Nick Cave, com ele e não sei se concordo com a resposta, então, repasso.
RR: Os programas já podem ser feitos com essa inteligência, já é nosso presente. Eu concordo com o Nick Cave. Neste caso, eu preciso contextualizar. Sim, a IA pode mapear as mentes e criar um tipo de música para os nossos algoritmos mentais específicos. Pode mexer com nossas emoções, relembrar de coisas, causar reações físicas, calafrios, etc.  Mas, não pode nos fazer transcender. Acredito num potencial espiritual da música, que está distante das mãos da IA. E Nick Cave explica tão bem. Eu concordo totalmente: “o que uma ótima música nos faz sentir é uma sensação de reverência.  Há uma razão para isto. Um senso de reverência é quase exclusivamente baseado em nossas limitações como seres humanos. Tem a ver com a nossa audácia como seres humanos para ir além do nosso potencial.(…) A inteligência artificial, apesar de todo o seu potencial ilimitado, simplesmente não tem essa capacidade. Como pôde isso? E essa é a essência da transcendência. Se temos um potencial ilimitado, o que há para transcender?”

Raphael Freire – Minimal do Bem

Qual é o papel da música eletrônica no cenário político do Brasil em 2020?
RR:
Papel transformador, que pode acontecer de forma inconsciente numa escala maior junto com as outras formas de expressão criativa, consciente e atuante na micropolítica. A experiência coletiva dos eventos de música eletrônica, principalmente dos bailes funk, propõe uma ideia de ultrapassar territórios condicionados, é muito potente nesse sentido. 

Luca Galego- Flava in Ya Ear

Hey! Perguntinha mais nerd: alguma dica ou sugestão de aplicativo, software ou equipamento que você acha massa e seja utilizado para música, produção e discotecagem?
RR:
Sendo sincera, apesar de trabalhar com programação eu não me considero nerd nesse aspecto. Opto sempre por métodos bem simples. Mas pelas experiências que já tive, acho massa o Max/MSP, devido a quantidade de possibilidades em métodos não lineares. Por isso, vale a pena se dedicar e aprender. A minha referência sonora de artista que trabalha com o Max é o Autechre. Vale a pena pesquisar e conhecer a banda para entender as possibilidades do programa. Outro software, que por sinal é muito parecido com o Max, foi idealizado pela mesma pessoa, mas tem a enorme vantagem de ser open source é o Pure Data. No site tem bastante coisa, e uma comunidade grande com fóruns e questões que podem ajudar muito no processo. http://puredata.info/ 

Lembro também de outro programa open source mas que não fucei muito, o Super Collider (https://supercollider.github.io/).

 

Guarizo – Bora Tocar Junto?

De algum tempo para cá, eu percebi que mais mulheres têm conquistado espaço em festas, rádios e eventos. Você sente mais esta abertura?
RR:
Isso é recente, eu vejo que houve uma abertura sim, mas tem muito o que abrir nesse aspecto. Já é um avanço! Quase todos últimos eventos que fui tinham pelo menos duas mulheres no line up. Claro, eu frequento eventos cujo produção está ligada neste aspecto. Mas precisamos pontuar: é necessário ter mais mulheres em curadorias e organizações das festas/rádios/eventos. Então,naturalmente, acho que essa abertura vai acontecer, sem aquelas situações de “uma festa organizada por homens “tem que ter uma mulher no line se não fica feio.Ok, vamos colocar, ela pode abrir o evento”, e por aí vai. É péssimo, como se fosse para tapar buracos. Os selos, por exemplo, eu vejo que tem uma dificuldade enorme de enxergar/ouvir/procurar ou encontrar naturalmente as mulheres produtoras. Elas existem aos montes, fazendo todo tipo de som.

Linda Green – Linda Green B2B

Você tem um dos programas mais frequentes na Veneno, como você decide os recortes musicais por edição?
RR: É uma jornada composta de vários episódios,acompanhada de uma coisa muito pessoal da minha parte, do meu humor ou estado de espírito. Alguns episódios são bem tranquilos, outros mais agressivos, eufóricos, nostálgicos, calorosos e por aí vai. Outra aspecto no qual eu presto atenção são os trajetos que faço, passo muitas vezes pelos mesmos lugares, mas nunca é igual… A frequência quinzenal é importante para eu não perder o fio da meada. É um exercício traduzir os humores e os trajetos organizando as músicas, tento praticar.

Imagem: Thyago Sainte

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